“Quando lia contos de fadas, eu imaginava que aquelas coisas nunca aconteciam, e agora cá estou no meio de uma!”
Lewis Carroll – Alice no país das maravilhas
Postado por Eduardo Monte Bello
Uma caminhada pelos veículos de mídia da cidade de Saltinho nos dias atuais irão remeter o leitor a histórias e narrativas que se assemelham em muito a contos de fadas.
Tudo está em sua “perfeita ordem”, tudo está em “harmonia”, tudo “funciona”. Não há insatisfação, não há discórdias, não há críticas.
“Tudo está em seu lugar, Graças a Deus!”, assim diz o samba de Benito di Paula, assim o desejam Grilo e sua trupe.
“A ilusão é o primeiro de todos os prazeres”.
Oscar Wilde
Como um vírus que toma conta de um organismo, como uma metástase que se espalha letalmente pelo corpo, os desejos e a “verdade” expressada por Grilo tomam conta de TODOS os veículos de comunicação da cidade. Dos jornais aos sites públicos oficiais do município, da Rádio Comunitária aos altares das Igrejas. Não há espaço para vozes contrárias, não há espaço para dissidentes, aqui, só existe um lado da moeda.
“Os maiores males infiltram-se na vida dos homens sob a ilusória aparência do bem”
Erasmo
Obviamente, sem sermos ingênuos, é mais do que sabido que veículos de mídia também são partidários e tendenciosos.
O que causa revolta é ver veículos oficiais de mídia como o site da Câmara dos Vereadores de Saltinho reportar também apenas um lado dessa moeda.
Casa de debates, oposições e contrastes, a Câmara tem como função abrigar aquilo que foi expurgado do Poder Executivo, ou seja, a diversidade de ideias e, com isso, a diversidade de ações por parte dos seus membros.
Noticiar ambos os lados, suas ações, discursos, pensamentos e posições devem ser deveres de uma instituição que zela pela democracia. Acima de tudo, uma instituição que acolhe a política em sua pluralidade não pode ter um discurso único, muito menos informações tendenciosas que priorizam apenas um lado ou uma parte dos atores políticos em questão.
Uma rápida olhada nas manchetes do Site da Câmara nos leva a seguinte questão, estaria a jornalista da Câmara sendo “amordaçada”, impedida de reportar a totalidade dos fatos que acontecem dentro de suas dependências? É o que parece.
E assim o conto de fadas continua, com seus personagens pitorescos, histórias inacreditáveis, contos surreais, ações só possíveis de serem explicadas pelo conceito de “magia”.
Um mundo onde a Lei parece ter sido reescrita ao favor dos personagens principais. Um mundo onde a aparência está acima da essência.
Tenho certeza que Grilo também leu “Alice no país das maravilhas”, até porque ele faz “ao pé da letra” aquilo enfatizado por Alice, quando ela diz: “Se eu tivesse um mundo só meu, nada teria sentido. Nada seria o que é porque tudo seria o que não é!”
Grilo e sua turma inverteram o sentido da democracia em Saltinho, suas leis, sua moral, seu cumprimento. Tudo aqui é do jeito que não deveria ser. Tudo aqui é do modo que não é.
Cabe a oposição e a população vigilante, trazer a cidade à realidade outra vez. Livrá-la dos vícios da ilusão é uma tarefa que exige tempo, porém, um dever que necessita ser cumprido sem mais atrasos.
“Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar”.
Bertolt Brecht
