27 de jan. de 2011

O Exército de Um Homem Só



Postado por Theo Sarapo

Na última semana, estive reunido com a intelligentsia da cidade de Saltinho. Eu não imaginava que o nosso querido Torrão fosse dotado de um "conjunto de intelectuais, considerados como uma classe, ou como a vanguarda artística, social e política", segundo definição do Dicionário Aulete. Tive ótimas impressões. Gostei sobretudo dos anfitriões. No final, saí dali com uma certeza: Saltinho tem futuro.

O único homem público que poderia fazer parte daquele grupo, estava presente. Trata-se do vereador Carlos Borges (PPS). Ou se preferir, Capitão Birobidjan Guiznburg saltinhense. Capitão Birobidjan Guiznburg é o personagem principal do romance “O Exército de Um Homem Só” do escritor gaucho Moacyr Scliar. Guiznburg era judeu nascido na Rússia vindo ainda menino para o Brasil. Ele tinha uma utopia socialista e tentou fundar uma sociedade alternativa em Porto Alegre. No entanto, era um incompreendido. Os únicos a dar atenção ao visionário eram o Companheiro Porco, a Companheira Cabra e a Companheira Galinha; além de homenzinhos que só ele via. Nós somos os homenzinhos que só Borges vê.

Na oportunidade, Borges ou Capitão Birobidjan Guiznburg saltinhense falou sobre suas agruras de ser a única voz dissonante de uma Câmara composta por compadres. Sua solitária missão em tentar conter as investidas totalitárias de Grilo. A bazófia ignorante e o total desconhecimento de causa de seus pares.

A inglória tarefa de Borges remeteu-me ao herói scliariano. E me deu a verdadeira dimensão de nossa frágil democracia. A triste realidade que nosso município está sendo tratado como um condomínio, cujo síndico não permite ruídos paralelos após as 22 horas.
Ainda por ocasião da reunião da semana passada, desculpei-me com Borges por um texto satírico escrito por mim no ano passado, no qual o comparava a um golfinho. Errei feio. Um golfinho não sobreviveria junto a paquidermes. E Carlos Borges sobrevive.