Por Eduardo Montebello
Dizem por aí que heróis não existem, que eles são apenas uma
invenção da mente humana para preencher um vazio que a falta de ideais nos proporciona.
Que tolice.
Eu tenho um herói.
Meu herói não sabia voar, não tinha super-poderes, muito
menos uma boa condição física.
Meu herói não era uma unanimidade. Ele tinha qualidades admiráveis,
invejáveis, infinitas, mas como todo ser humano, ele também tinha seus defeitos.
Meu herói, sorria e chorava, alegrava-se e indignava-se, se contentava
e se angustiava com a vida, a humanidade e com o futuro.
Meu herói era a mais simples, pura e maravilhosa composição
feita por Deus. Meu herói era um ser humano chamado Wanderlei Moacyr Torrezan,
o meu grande mestre, Wandinho.
O meu herói faleceu neste dia 17 de outubro. Ele “saiu da
vida para entrar na História”.
Meu herói cumpriu uma missão ímpar enquanto esteve entre nós.
Ele combateu os maiores vilões da humanidade até o último momento de sua vida.
Ele combateu incansavelmente os vilões da injustiça social,
da desigualdade e da miséria.
Ele lutou pelo povo.
Ele lutou especialmente por Saltinho e pela pátria
Saltinhense, e como todo herói digno desse título, ele nunca exigiu nada em
troca.
Meu herói teve várias fases.
Meu herói foi membro atuante do grupo jovem da Igreja ainda na
época do padre Zé Maria; ele foi membro e presidente do Centro Comunitário de
Saltinho; foi membro do grupo amizade; ele foi técnico da Saltinhense; ele foi
funcionário público do Posto de Saúde de Saltinho; foi vereador e Presidente da
Câmara de Vereadores de Saltinho; foi duas vezes Prefeito da cidade.
Meu herói mostrou que não é necessário ser super-humano para
sonhar, realizar e vencer na vida. Ele mostrou que mesmo em face de todas as
dificuldades materiais e físicas, é possível conquistar um ideal.
Meu herói me ensinou muito, agora chegou a hora de caminhar
sem mais sua presença ao meu lado, mas com seu exemplo, ensinamentos e boas lembranças
em mente.
Penso que cabe nesse momento uma frase de São Paulo à
Wandinho:
“Combati o bom
combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça
me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia”.
Até um dia Wandinho!
Ao mestre com
carinho.
Poema de Natal
Vinicius de Moraes
Para isso
fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.